quinta-feira, 28 de março de 2013

Professora em pânico


Professora em pânico




Por Juliana de Souza


         Era apenas  mais um dia de trabalho como todos os outros , até que entrei  em um ônibus lotado. Até então normal como sempre acontecia todos os dias , até que o ônibus parou de repente. Começam os boatos entre os passageiros : “ o ônibus quebrou!” dizia um  , “não , foi acidente !” dizia outro. E toda aquela agitação começou a me deixar nervosa. Tinha hora para chegar ao trabalho, afinal de contas, o que era? Acidente? ônibus quebrado ?quanto tempo mais eu ficaria naquele ônibus ? Uma sensação estranha foi me invadindo , me sentia sufocada ,olhei a minha volta procurando pelas janelas  , pensei : -um calor desses e esse pessoal não abre as janelas !  Engano meu , as janelas estavam todas abertas mas era como se não houvesse vento . Suava , senti meu coração disparar , um aperto no peito , sensação de que algo ruim iria acontecer . Eu queria gritar , fugir daquele ônibus nem que fosse pela janela ... Até que após 15 minutos de espera enfim o ônibus andou , e o motivo da parada era apenas uma obra . Mais aliviada , segui normalmente para o trabalho.
           Alguns dias depois , estava sozinha em casa lavando a louça quando  tudo começou novamente.  Aquela sensação estranha me dominando , falta de ar , dor no peito e a sensação de estar enlouquecendo . Larguei o que estava fazendo e corri para minha cama onde desabei a chorar . Chorava muito e sem motivo aparente , eu só sentia que precisava chorar. Após alguns minutos tudo voltou ao normal . Contei ao meu marido o que havia acontecido que me aconselhou a procurar um médico pois  disse que eu andava muito nervosa e sobrecarregada (com dois empregos , dois filhos, marido , casa para cuidar e faculdade de fato,  a gente  pira !! ) Fez questão de me lembrar também que  nós não saíamos mais de casa devido as minhas frequentes desculpas : “ vi no jornal que vai chover hoje. “  “viajar no feriado com todo aquele movimento , pessoas dirigindo embriagadas e causando acidentes ?” “ acho melhor  irmos na semana que vem “ ( e a semana que vem nunca chegava ...)
          Por fim percebi que ele tinha razão , alguma coisa estava errada comigo , então marquei uma consulta com um clínico geral , que após ouvir minha experiência me deu o diagnóstico : você tem síndrome do pânico .





Síndrome do Pânico, você sabe o que é?



Sintomas

            É tão difícil, atualmente, encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar em Síndrome do Pânico. O sintoma básico é um medo enorme sem explicação, indefinido, medo infundado; você acha ridículo sentir esse medo, mas não consegue controlar. Ela é caracterizada pela presença de ataques de pânico. São crises súbitas, repentinas, espontâneas, com forte sensação de medo (medo de tudo e sem motivo), de perigo, de desmaio, de derrame cerebral, loucura ou morte iminente (o que nunca ocorre); sensação de alerta ou de fuga, necessidade de socorro imediato ou até de se encolher num canto, agitação e múltiplos sintomas indefiníveis. Enfim, um terrível mal estar. Você se sente totalmente inseguro, como uma criança. Não houve nenhum fator que o precipitasse.
        De repente a pessoa sente um mal estar estranho na cabeça como se fosse perder a razão, a consciência. É comum uma sensação de estar fora da realidade; ou um mal estar generalizado, como um pressentimento algo muito grave fosse acontecer. E é nesse momento que um outro sintoma (bastante característico) aparece: a necessidade de estar ao lado de alguém que traga segurança. Geralmente, um parente próximo.
             Podem surgir desde palpitações no coração, falta de ar ou dificuldade de respirar, sensação de sufocação ou bolo na garganta, mãos e pés molhados e frios, formigamentos nos braços, pernas ou nos rostos, zoeira, zumbido ou pressão nos ouvidos (como se fosse pressão baixa ou labirintite), suor ou tremedeira generalizado, distúrbio gastrintestinal como (náuseas, enjoos, diarreia, gases, vontade irresistível de urinar, falta ou excesso de apetite), desânimo acentuado, mal estar geral, insônia ou sono excessivo, ondas de calor ou frio, tonteiras.
Porém, pessoas predispostas à síndrome podem desencadeá-la depois de passar por situações traumáticas. Dias , semanas ou meses depois de determinados problemas como perda de entes queridos, desemprego, doenças no lar, pré ou pós-operatórios, assaltos, sequestros, acidentes, etc.
            Como a maioria dos sintomas são físicos, as pessoas procuram outros profissionais, como cardiologistas, neurologistas, gastroenterologistas, clínicos e homeopatas, quando na realidade deveriam procurar o psiquiatra. A pessoa faz uma bateria de exames, desde eletrocardiograma, ecocardiograma, raios-X, exames de sangue e outros, e nada de anormal é detectado. Desesperado, parte até para centros espíritas. 

            O pânico não é detectável por nenhum tipo de exame laboratorial, apenas clinicamente. Os pronto-socorros cardiológicos ou cardiologistas são os primeiros a serem procurados devido à taquicardia, dor no peito e a dormência, depois os outros profissionais, deixando por último, até por preconceito, os psiquiatras. Dez por cento dos atendimentos cardiológicos são portadores da síndrome do pânico, que examinados pelos cardiologistas constatam que não há quaisquer anomalias. A síndrome do pânico não é uma doença psicológica, e sim física. O que ocorre é um desequilíbrio de determinada área do cérebro, alterando a química dos neuro-transmissores, responsáveis pelos impulsos nervosos. O sistema nervoso central é que comanda as funções vitais do nosso corpo, por isso ocorrem uma série de alterações no nosso organismo, é o que chamamos de D.N.V (distúrbios neuro-vegetativos).
          É muito comum aos portadores da síndrome um medo constante de sentir-se mal na rua e em outras situações onde a saída e o socorro seriam difíceis. É a agorafobia, em que a pessoa apresenta uma esquiva fóbica em relação a diversas situações públicas. Com esse medo, a pessoa não consegue mais frequentar ambientes cheios, tais como supermercados, shoppings, cinemas, teatros, bancos cheios, filas, multidões, etc. Também é comum sentir pânico de altura, de elevador, de avião, túnel, ponte Rio-Niterói, de temporal, de afastar-se de casa para outras cidades ou países; são situações onde a saída e o socorro são difíceis. Cria desculpas para não sair de casa. E, com frequência devido à incompreensão, começam a surgir os problemas familiares. Devido o mal estar constante, o ambiente familiar fica comprometido, chegando até a separação.
           O portador do pânico sofre duplamente, pois além do sofrimento físico que a própria doença proporciona, sofre por não ser compreendido por alguns familiares. É comum o portador da síndrome ouvir frases como “reaja!”, “isso é frescura...”, “para de chilique”, “você tem medo do quê?” “chorando de novo ? “

O Tratamento 

            Como a síndrome do pânico não é psicológica, a crise não desaparece com terapias. O máximo que se pode alcançar com isso é adiar o sofrimento. A terapia comportamental é importante como auxiliar no tratamento medicamentoso. O pânico não desaparece espontaneamente; ao contrário, tende a agravar com o tempo.

           Os pacientes são tratados com remédios que atuam diretamente no sistema nervoso central, equilibrando os neuro-transmissores (noradrenalina, adrenalina, serotonina e outros) e evitando as crises. O tratamento considerado específico conjuga o antidepressivo a outras medicações, conforme o caso; e assim mesmo, não existe um antidepressivo único para todos.

Os Remédios 

           O antidepressivo (tarja vermelha), ao contrário do tranquilizante (tarja preta), não causa nenhuma dependência mesmo quando combinado com este; ao contrário, afasta a dependência de qualquer tranquilizante. Os portadores do pânico têm um medo cruel da dependência dos remédios, principalmente daqueles que possuem tarjas pretas. 

           Se um profissional médico prescrever somente o tranquilizante (tarja preta) com o objetivo de cura e a pessoa tomar por mais de três meses, aí sim, poderá tornar-se dependente, pois os tranquilizantes são depressores do sistema nervoso central. Os tranquilizantes apenas aliviam, acalmam momentaneamente os sintomas. Passado o efeito do medicamento, os sintomas retornarão. A maioria das pessoas costuma generalizar os remédios psiquiátricos quanto a seus efeitos. Elas imaginam que todos são tranquilizantes, dopantes ou causadores da impotência sexual. Ou então que são nocivos à saúde. Puro engano. E o mal maior que a doença traz? O indivíduo tem medo do remédio causar impotência e acaba ficando impotente por causa da doença. O importante é lembrar que cada caso é um caso, portanto, vai depender e muito do feeling do médico na hora de lidar com o paciente.
Existem antidepressivos tricíclicos, tetracíclicos, IMAOS (inibidor da monoaminooxidase) e o mais recente, que é o ISRS (inibidor seletivo de receptação de serotonina), que tem uma variedade enorme. Mas só os médicos entendem como eles devem ser usados.
            Um dos maiores problemas é que os remédios antidepressivos não são administrados de forma adequada aos pacientes. Essa não é só a minha opinião, mas também a de especialistas internacionais que estiveram em São Paulo durante o V Congresso Brasileiro de Clínica Médica, em novembro de 1999. Os remédios podem prejudicar, sim, quando mal receitados.
        Diagnosticar a síndrome do pânico não é nenhum mistério, a questão principal é acertar nos remédios. Se você não teve sucesso com alguns remédios, não desanime,insista, procure o profissional da sua confiança. Ninguém morre do pânico e nem perde o autocontrole.
Num lar onde existe um portador da síndrome do pânico, deverá haver muito amor, carinho, muita compreensão e apoio moral.


Referências:

Um comentário:

  1. Aconteceu comigo, e exatamente pela mesma condição, dois empregos e faculdade!

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